Minha Guerreira

Ela foi a luz num dia escuro.
A luz de lá era azul, não amarela como Sol daqui.
Demorava a aparecer e quando aparecia nos engolia por entre as plantas. Todos parávamos e nos voltávamos para o Sol. Para agradecer o que acreditávamos ser divino pela luz que se acendia.
Ela veio silenciosa, senti um cheiro que não pertencia a mim, nem a nada ou ninguém que eu já tivesse sentido antes.
A sensibilidade dela me atravessa como os canhões de vocês atravessaram o navio em que morremos juntos.
O perfume irradia dela, como as fragrâncias irradiaram ao redor da sala de essências que quebramos quando fomos roubar as especiarias para uma cerimônia.
Ela é rápida, e seus gestos me hipnotizam como a caçadora, hipnotiza sua caça. Como a Leoa e o antílope, na Savana em que fomos Rei e Rainha. Eu que nasci para morcego, me vi como um mero humano aos seus pés no dia em que você foi antes de mim, Minha Bela Dama.
Tive sorte, muita sorte por estar ao seu lado e por permanecer nele pelos que virão.
Você sabe, melhor do que ninguém jamais saberá, o quanto me felicita sua presença. O quanto me completa de maneira sincera saber que não há distância que se coloque entre nosso trabalho juntos.
O fio da minha espada, se abaixa por você.
A ponta da minha capa se arrasta com você.
Minha cabeça não se curva, mas reverencia sua essência.
Porque de onde viemos, para lá retornaremos juntos. Tal qual viemos.
Vamos finalmente saber apreciar o sol sobre nossas cabeças, não por alguma divindade mas pela própria beleza e valor que ele tem.
Foi isso que aprendemos e é isso o que ensinamos - a grandeza das coisas pelo o que elas são e não pelo o que queremos dar a elas.
Eu te agradeço mentalmente todos os dias, deixo uma flor pelo chão para que você saiba que estive lá. E quando não sinto seu cheiro, garanto que me lembro dele para ter a salvo o que conservamos de melhor.
Em frente minha dama.
         Sempre.
                                                             Seu cúmplice,



Fernando

Comentários