Numa fúria quase incontrolável, hoje acordei lembrando de você.



E pensando em como nos tornamos o que não somos hoje. Nossos sonhos, nossa vida, tudo afogado em meio a expectativas e verdades esfoliantes. Os fatos venceram nossas vontades. Logo nós que nunca acreditamos em destino nos tornamos reféns das probabilidades. Fizemos da fenda um abismo e fomos expandindo esse abismo, até que ele se tornou tão grande que não foi mais possível enxergar um ao outro. Fizemos da nossa vida juntos um nada. Logo ela que era tão colorida, tão viva, se apagou. Ou foi apagada, eu nunca entendi direito. Deixamos nossas frustrações e nossas inseguranças (sim eu estou usando essa palavra) nos matarem. Entramos em coma e morremos. Nos acabamos. A intimidade, a convivência, a cumplicidade, o companheirismo, o tesão, a tranquilidade, a amizade, o amor foram pelo ralo um a um .Eu não sei exatamente como isso aconteceu nem quando, deve ter sido gradativo mas pra mim foi instantâneo, foi um tiro certeiro eu sei que não é assim que funciona mas na minha cabeça um dia eu acordei e a sua presença era mais difícil que a dor da sua ausência.
Eu não sei se foi ela quem estragou tudo isso. Acho que o famoso "vaso da confiança" já estava quebrado quando você se rendeu aos encantos dela.
Sabe que  nunca te disse isso mas ele veio atrás de mim, quase no mesmo período na verdade, se não me falha a memória. Ele disse que me amava muito e que mesmo sabendo que eu não ficaria com ele porque estava com você, era necessário que eu soubesse que ele me amava como nunca antes havia amado ninguém e que estaria lá caso eu quisesse. Pronto pra enfrentar o que fosse, mesmo isso significando enfrentar você e os outros, ele me amava e estaria lá.
Depois que tudo acabou ele ainda me procurou algumas vezes pra repetir as palavras de amor, depois pra me ver e depois pra nunca mais.Diante da minha rejeição ele optou por seguir em frente. Acredito que nunca tenha tocado no assunto com você.
É isso. Não sei porque estou tocando nesse assunto a essa altura da vida, depois de tantos anos, como se fizesse alguma diferença, porque não faz eu sei. Mesmo com toda merda que isso causou, hoje eu acordei sentindo uma saudade enorme dos dias em que tudo o que importava nesse mundo éramos eu, você e aquele apartamento.
Saudades de um período que não vai mais voltar, nem eu quero. Já não tenho mais toda aquela tolerância a dor. Nem toda aquela paciência budista. Nem você deve ter mais.
Os laços que nos uniram foram levados embora pelo tempo.
Mas eu duvido encontrar por ai aquele olhar outra vez, tal qual eu não encontro você também não. Porque nossos destinos são paralelos e terem se cruzado foi uma anomalia da natureza, anomalia essa que ela logo cuidou de resolver. Nos encaminhou para onde nunca deveríamos ter saído. Nossas vidas fáceis, seus rostos mornos, meus abraços completos, e beijos infindos ficaram perdidos em alguma esquina entre o prédio onde morávamos e nossa falta de limite. Nós morremos ali. Nosso amor foi atropelado, você enlouqueceu e eu fugi.


Agora você bate a minha porta. Por quê?
Pra quê?
Aonde vamos chegar com isso ?
Eu irei mesmo tentar?
Eu nunca fui de desistir mas não tenho tendências suicidas.



A diferença, é que eu já não fujo mais.


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