Pedaços

Round 1

"Alguns hábitos são impossíveis de se abandonar. Como não impedir que as pessoas que queremos por perto vão embora. Nem aquela velha mania de dizer a simples frase: “Eu me importo com você”. Não ligar. Não demonstrar. O coração implora, grita e nosso orgulho se faz de surdo. Nós somos fortes, né? Sobrevivemos, superamos e esquecemos. Quanta bravura! No meio disso esquecemos que abandonar velhos hábitos significa nos permitir viver coisas novas. Sair do mesmo cenário e nos livrarmos da mesmice. Algumas vezes a melhor saída é encarar o risco, o perigo, o medo. E simplesmente se deixar levar. Simples, complicado, leviano. Ceder ao orgulho é tão mais fácil. Tão mais divertido. Afinal, dizem que tudo que é verdadeiro volta. Eu não volto. Por mais que eu queira, por mais que sinta. Não sou de ceder. Vou levando, escondendo e deixando “pra lá”. Talvez descubra que é tarde demais quando encontrar alguém exatamente como eu. Que não vai ligar nem se importar. Nem voltar. E aí? Perdi uma chance? Cuidado. Seja seletiva, mas não seja tão dura consigo. Tente, experimente e deixe o seu orgulho descansar um pouquinho. Possivelmente há alguém esperando só uma brechinha para entrar na sua vida pra fazer tudo mudar. Algumas barreiras podem e devem ser quebradas – mas a sua armadura anda te protegendo demais. Permita-se, antes que seja tarde. Tarde demais."

Round 2

"Rapaz, larga tudo e fica comigo. Esquece os problemas, foge deles e fica comigo. Eu tenho toneladas de problemas pra te dar. Problemas e muito beijo e muito colo e tudo que você me pedir. Eu tenho tudo. Posso te machucar, te traumatizar e te fazer sofrer, mas fica comigo. Tenho um grande caos pra te oferecer. Caos, confusão, nenhum dinheiro e horas de conversas sobre tudo o que você quiser falar. Me faz ficar com raiva, me faz rir, me faz morrer de tesão e de dor. Mas fica comigo. Eu não te amo ainda, mas quero dormir contigo pra sempre. Come as minhas amigas, as namoradas dos meus amigos, os meus amigos, as tuas primas, tuas colegas, mas fica comigo. Eu não tenho nada demais. Sou estúpida e carente e não gosto de namorar. Mas fica comigo.

Você quer gritar isso cada vez que ele se lamenta. Cada vez que o vê. Mas não, não pode. Então fecha os olhos e respira fundo. Guarda tudo isso e diz para ele não se desesperar. Que tudo vai dar certo."

"Por quê? Por que você mexe comigo dessa maneira? Por que não consigo sentir o teu cheiro sem pensar bobagem? Por que não me controlo quando você chega perto de mim? Por que eu me sinto assim? Por que você existe? Por que, por que, por que?

Perguntas sem respostas me fazem questionar o que eu quero pra mim. Ele não faz meu tipo, mas me atrai. Como explicar? Não sei. Não gostamos da mesma coisa, mas as nossas conversas são tão boas, que nem vejo o tempo passar. Na verdade ele até me irrita um pouco. No entanto chego em casa e quando deito a cabeça no travesseiro, é como se ele fosse o travesseiro. Está ali, entranhado em meus pensamentos, na porta de entrada para os meus sonhos.

Não sei se é química, se é algo transcendental, empatia de alma, etc. Só sei que é inexplicável o que eu sinto quando me aproximo dele. Eu já larguei de mão, a nossa história terminou antes de começar, pelo simples fato de que nunca daria certo. Nós somos feitos como um para os outros.

Diz isso pro meu corpo, então, que parece ter um magnetismo fora do comum com o dele, uma submissão incontrolável. Eu sou carente e autossuficiente, enquanto ele é muito desligado para me acalmar. É pouco romântico para a minha necessidade e não entende quando meus lábios clamam por um beijo. Esse cara esquisito não enxerga quando meu corpo quer o dele e sempre que ele cruzou a linha, era tarde demais. Não fiquei à vontade e perdi a vontade. Sim, sou confusa e não preciso de alguém que me explique pra mim mesma. Quero alguém que me desvende, que me perturbe, mas me descubra. Me incomode, mas me afague.

Depois do último encontro, fiquei pensando se não tem um jeito da gente tentar. Por que é tão difícil quando se trata do “nós”? Parece fórmula inversa, equação errada. Raiz quadrada de número negativo. Tudo que somarmos na balança, estará fadado ao erro. Fico horas tentando montar esse quebra-cabeça, mas não tem jeito, nossas peças não se encaixam. Uma pena, pois essa sensação que tenho quando ele está do meu lado, é única e indescritível.

Que boba que eu sou. Tem tanta gente no mundo e eu fui me envolver justo com um cara desses. Tá certo que tem um sorriso lindo, um jeito de me olhar que me desmonta, uma mania de me instigar com as palavras, que me faz rir e acordar olhando pro celular. Por que? Sei lá, já desisti de tentar entender, vou trabalhar e esquecer que é o melhor que eu faço. Olha, recebi uma mensagem: “Esse anoitecer me lembra que a lua tinha um segredo comigo: Nunca me decepcionar. Por isso ela me mandou você. Minhas noites não serão mais as mesmas sem tua presença. Se cuida”.

Leio o visor do celular umas quatro vezes, tentando me convencer de que aquilo não é verdade. Respiro fundo, olho pra rua e a única pergunta que me resta fazer é: Por quê?"

Round 3

"Sábado à noite e eu em casa, tentando assimilar as porradas que levei da vida nos últimos dias. Não bastasse eu questionar minha profissão e todas as minhas atitudes nessa existência, meu relacionamento acabou da forma mais surpreendente possível. Como assim, não dá mais? Naquela hora senti o chão abrindo um buraco e enquanto eu caía, uma faca atravessava a minha garganta, vinda do estômago e passando pelo peito. O pior de tudo é que ainda me sinto em queda.

Preparo um drink para me fazer companhia, enquanto assisto a um reality show de gordinhos tentando emagrecer que passa na TV à cabo. De repente o telefone toca. Deve ser a minha mãe perguntando se eu jantei, ou querendo saber onde vou almoçar amanhã. Não era. Aquele nome bem conhecido piscando no visor do celular foi como se eu tivesse engolido um tijolo. Pensei em não atender. Pensei em atender imediatamente. Imaginei até que estava arremessando o aparelho pela janela. Atendi.

A pior coisa do término é desfazer os laços. É mais dolorido dizer Adeus à convivência do que ao corpo. A presença física se dribla, mas e a companhia? Essa ausência é como se tirassem a sua cama e você não tem mais onde dormir. É um desatino real. Ela me ligou porque está com saudades, quer conversar. Natural já que nos últimos 4 anos eu fui a sua principal conselheira, confidente e grande incentivadora. Queria me contar coisas novas do trabalho, pessoas em comum entre a gente que encontrou, falar coisas que ele geralmente não fala a ninguém. E eu? Quem me ouve? Não posso confessar a ele o que penso, simplesmente porque não sei o que sinto.

Angústia, dúvida, receio, insegurança ou cautela. Sei lá, talvez alguma dessa palavras me defina. Talvez nenhuma. São 3 semanas desde o “fim” e eu ainda estou no processo de “recomeço”. Tenho medo de ter clicado no “reset” após essa ligação e desperdiçar todas as minhas sessões de terapia, arquivos de músicas de fossa, programas de TV para solitários e todas as bebidas da minha dispensa. Fiquei tentando decifrar a intenção dele no tom de voz, nos suspiros, em cada palavra. Eu o conheço como poucos, mas também jamais esperava que ele me desapontasse. É como se eu tivesse acabado de sofrer um acidente e fosse dirigir na mesma rua. A gente passa bem devagar, tentando se precaver com medo de se machucar de novo.

Desliguei com a sensação de que vai acontecer novamente. Talvez eu perca o medo agora e também ligue. Pode ser que nunca mais a gente se fale. O certo é que uma história nunca tem fim. Não há como destruir as lembranças de tudo que vivemos. É uma voz que o ouvido sempre vai reconhecer, uma risada gostosa de fazer o coração sorrir. Um jeito de ser que a gente se acostuma a admirar, mesmo que não goste ou não se identifique. Está ali, torna-se uma mobília do lar da sua vida. E a mudança é sempre muito complicada, mesmo que seja para melhor. Desde aquele dia, criei um novo hábito, além de pensar em você. Não paro de olhar para o visor do meu telefone."

Round 4

"Vai embora daqui, da minha vida. Não suporto mais essa tua mania de não querer me querer. Me larga, me solta, não toca em mim. Não finja que se preocupa. Você não se importa com meu choro. Está com a consciência pesada e quer tornar tudo isso o menos dolorido possível para que você possa dormir direito, acompanhado de uma missão cumprida.

Vai embora, vai. Estou abrindo a porta da sala e fechando a do meu coração. Vai doer, eu sei, mas não sou mulher pra receber consolação como prêmio pelo que eu nunca conquistei. Não me alimento com sobras e você me tirou o prato principal faz tempo. Não faz essa cara de quem se arrepende de ter me enganado, essa cara de quem não consegue mentir nem pra si mesmo.

Posso estar aqui dilacerada, em busca do meu próprio amor – porque o amor próprio já se foi pra algum lugar que eu desconheço – mas eu jamais vou conseguir ter a falsidade de inventar uma paixão. Você é patético. Sai, não me abraça, não pense que vai me convencer com tudo aquilo que me cativou. Pelo contrário, você conseguiu me mostrar o que eu mais detesto em um homem: mentiras e covardia. Você é um fraco e sem a nobreza da fraqueza. Um homem fraco é aquele que não enfrenta seus medos por medo de arriscar, que tem medo de si próprio, medo dos outros, medo do mundo. Medo de ser fraco.

Para, para, não vou escutar esse papo de que vai ser diferente. No fundo você está tentando tornar as coisas mais difíceis para depois me jogar na cara que tentou. Nem você acredita nesse discurso de ladrão de galinhas. Vai me dizer que não vai voltar pra ela de novo. Aquela mesma mulher que já te deixou quando você mais precisou e eu, burra, estava lá, segurando as pontas e o teu corpo para não cair. Mas agora entendi, certamente vocês combinam. As caras lavadas são as mesmas e feitas de pau.

Vai embora daqui, nada que você me diga fará eu mudar de ideia, eu preciso muito te odiar nesse momento, para me amar um pouco mais. Sai e leva os Cds contigo, teu moletom que uso como pijama, a caneca, teu desodorante, tua vida, minha alma. Leva tudo embora, você estragou tudo. Eu achei que ia dar certo, mas você parece ter o dom de me magoar. Vai embora, vá pra longe, carrega tua máscara pra bem distante do meu salão de festas. Vai embora."


Final Round


“Ah esquece ele. É passado. Parte pra outro!” Tão fácil dizer, né? Vem aqui viver tudo que eu vivi. Vem aqui ficar lembrando de cada sorriso. Vem aqui lembrar de todas as brigas e dos momentos em que ele te abraçava e falava ”desculpa, vai ficar tudo bem”. Vem aqui lembrar de todos os beijos escondidos, dos olhares de cumplicidade, do cheirinho dele.. Vem aqui lembrar da primeira vez que vocês se viram, lembrar do primeiro beijo, lembrar da sensação de estar se apaixonando. Mais e mais. Vem aqui suportar a dor das brigas, dos momentos em que eu tinha que sorrir, mesmo não tendo a miníma vontade. Vem aqui lembrar dia após dia que ele por mais que fosse todo errado, era a pessoa certa pra você. Vem aqui conviver com essas memórias que não saem da minha cabeça, porque quer saber? Elas não querem ir embora, e nem eu quero deixá-las ir.

Você que procura alguém que te completa em tudo: você quer um relacionamento ou um álbum de figurinhas? Já parou para pensar que essa pessoa “certa” que se “parece muito com a gente” pode estar é muito errada? Que graça tem em 1 + 1 somar 1? Já somos egocêntricos demais para amar todas as nossas qualidades repetidas em alguém.

Relacionamentos existem para, oras, a gente aprender a se relacionar. Nada melhor que o diferente para acrescentar. Que mania é essa de procurar um namoro fácil? Que graça tem nisso? Alôu mundo! Onde foram parar os casais cafoninhas “Eduardo e Monica”? Eles ainda insistem em existir? Acho que desistiram de se amar por preguiça. Vida tão corrida, tão difícil, pra quê dar mais trabalho pro coração?

Acho um porre aquele casal que gosta das mesmas coisas, que faz as mesmas coisas, que comenta as mesmas coisas. Insuportável aquele casal que se parece fisicamente, que ela mede 1,65 e fica bacana de salto ao lado dele porque ele tem 1,80. Acho bonito mesmo o torto. É não saber bulhufas de Steve Jobs e comprar “O Fabuloso Império de Steve Jobs” para ele de aniversário. É colocar o salto alto e problemas se você ficar maior porque você gosta de salto e, e daí, se ele não abandona o All Star preto sujo? Ir com ele naquele bar de rock da esquina para beber uma cerveja gelada e na semana seguinte ele te acompanhar no desfile de moda. Ouvir Norah Jones sem meter o dedo no rádio do carro dela, porque amanhã ela vai ter que escutar Nirvana no talo no seu. Não entender de economia, não entender de revista de fofoca, não entender de política externa, não entender porque caracoles aquilo ali era um impedimento. Mas entender perfeitamente todas as qualidades da pessoa única e diferente que existe ao seu lado. Porque no final das contas, o que carece de medidas iguais, é só o sentimento. Se liberte um pouco dessa busca bitolada. Quando você se der conta, vai continuar ouvindo seu CD do Rolling Stones. Mas é a namorada do cara que gosta de ópera..."

"Fiquei triste. Percebi que demorei tanto pra tomar meu café, que ele esfriou. Percebi também que o mesmo acontece com as pessoas ao meu redor, cansadas de esperar, quando as procuro, já foram embora. É sempre assim, sabe? Quero viver cercada de pessoas, mas preciso e encontro paz só em minha solidão. Quero ser o calor de alguém, mas se eu colocá-lo no meu coração, ele empedra. Sou egoísta, não sei dividir meu silêncio. Egocêntrica. Teimosa. Sei todos os meus defeitos e melhor, não os escondo. Sou de verdade. Apesar de me beliscar às vezes pra constar que sou de carne e osso porque costumo vestir minha armadura por tanto tempo que ela se tornou quase uma segunda pele. Não é fácil tirá-la e deixar minha ferida exposta. E estou aqui em carne viva escrevendo esse texto. Eu decidi que minha vida é dividida em meses, meus meses em dias, dos quais uma quinzena se refere aos bons acontecimentos e a outra, ao meu inferno astral.

É chegada a hora de trocar de pele, sair do casulo, abandonar a armadura. É chegada a hora de sorrir por fora e chorar por dentro. É a hora de dramatizar a existência e lamentar as partidas. É a hora de desocupar as gavetas, a casa e o coração. Mudar, inverter. Eu arrasto bem os móveis da casa, mas me sinto bombardeada por sentimentos estranhos quando tento remover pessoas, não dá. Sempre preferi ouvir “adeus” por não saber lidar com a consciência pesada no meio da noite, caso eu dissesse. Porque, claro, é mais fácil culpar os outros pela nossa infelicidade do que ser totalmente responsável por ela. Eu evito colocar ponto final porque no final, ele acaba virando reticências. E dar continuidade ao sofrimento é masoquismo demais. Viro dor, viro solidão, viro qualquer coisa que me isole do mundo externo e faz eu me recolher no meu mundinho interiorizado. E em mim, só em mim, eu encontro as explicações, razões e motivos.

Maldita quinzena que mais parece um século. Cansa viver, sobreviver, cansa ser humana. Então eu vou mudando minhas cores e me adaptando aos ambientes ou tentando ser invisível à eles. Me esforço pra ser boa, pra ser calma e continuar sendo eu. Reprimo minha mágoa na esperança de que ela suma, mas ainda falta alguns dias. A sensação azeda começa a passar, o amargo da vida tá querendo mudar o gosto e o soco no estômago não sufoca tanto quanto antes. Quando vi o nó na garganta já sumiu e eu estou aqui gritando minha felicidade. Essa sou eu. Vivo em ciclos, fases, fugindo em círculos. Fujo do medo de altura pulando de aviões. E continuo minha rotina mensal, quinzenal, sendo dor, alegria e me vestindo de sentimentos novos. Viver dá um trabalho do cão e ser nós mesmos, às vezes, dói demais."

                                         Peguei esses pedaços emprestados dos Blogs do Chico Garcia e da V Feminina

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