Antes de tudo

Você me dá uma cantada fácil. Me leva com um toque leve. Me convence com um tom baixo
Me ganha com um beijo barato.

E eu me vendo, me deixo, me largo. Me jogo. Eu te arranho, te persigo, te ganho. E você se engana. Se cede, se entrega, se abandona.

No morro, entre nós um muro enorme onde esta de pé tudo o que nos separa,  mas esta noite nos esquecemos do certo e do errado. Da implicações e do cotidiano. Dos olheiros e das línguas. Essa noite não há limites, não há permissões. Não há fim. Há apenas o nosso labirinto sem fim e nosso anseio que tanto nos perseguiu, sendo finalmente calado.

Eu nunca te disse que sim, porque não podia. E nunca disse não porque não queria.
Mas hoje isso não importa.

Hoje o mundo é nosso.

A verdade não dita, diz que eu quero ser sua. Os seus olhos dizem que você quer ser meu.
Eu digo mentiras, com toda frequência que posso à você. Você me mostra o que não tem, e foge.

Vivemos um ciclo de impossibilidades.
Eu aprendi a atirar por isso. Você aprendeu a se defender de mim, por mim.

E assim vamos no presente, infelizes que correm e não chegam.
História que não tem sentindo.
Anexo que ninguém leu.
Cor que ninguém gosta.
Verdade com a qual ninguém se importa.

Acordo. Meu primeiro pensamento:
Onde esta você agora?
          Isso é obsessão.
Percebi você ali, seus braços são inconfundíveis.
Entretanto não tive coragem de olhar para o lado, de te acordar, de te pedir perdão, não posso me perdoar pelos erros que te fiz.

A luz não acende mais pra nós. Não há mais reforma de casa. Não há mais futuro.

Suas metades são tão ruins quanto as minhas, seus pedaços estão tão quebrados quanto os meus. Já não tem mais jeito. Há um limite para restauração de confiança, e o nosso já se perdeu há muito.

A culpa se tornou nossa amiga, a tensão em nossa relação quase tem vida própria. Já não temos mais nada.

Eu queria dizer tudo, mas não consigo, seu cheiro me deixa muda. Não posso raciocinar, apenas fingir.

E tudo que um dia foi, já se afoga no mar da vida. E tudo o que um dia nos salvou hoje nos mata aos poucos. E mais uma vez, nossas conversas mudas que sempre nos salvaram, e nos levaram um ao outro, hoje nos matam.

Me lembro como acreditávamos que o resto da vida era pouco pra viver de nós. Ai falsificávamos bom senso e repetíamos juntos -antes de tudo vamos terminar esse dia.


Então, antes de tudo, antes que você acorde, eu vou sair pelos fundos, pra não deixar pistas.


Dessa vez, antes de tudo vamos enterrar aqui essa vida.
Antes de tudo vamos matar aqui nossos medos, porque eles estão nos matando.
Antes de tudo vamos deixar aqui nossas batalhas, chega de guerra.
Antes de tudo vamos largar esses gostos, essas palavras.
Antes de tudo vamos nos livrar desse horror que nos tornamos.
Antes de tudo vamos deixar que o amor próprio seja maior que o outro amor.
Antes do desespero, vamos libertar os fantasmas, vamos soltar as amarras que nos prendem um ao outro.
Antes de sermos um, vamos ser dois.

Antes do fim, vamos largar o começo.





"If I could be who you wanted
If I could be who you wanted all the time"



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