It has come.

E eu sabia que este dia chegaria.
Só não sabia que seria tão cedo.

eu me lembro da primeira vez que reparei em você, aquele cabelo jogado nos olhos, me perguntava sempre se aquilo não te incomodava de alguma forma. Mania aquela, você tinha tantas. Lembra da quantidade de chaveiros que você carregava? Me lembro como se fosse hoje.
Lembro de como você ficou quando decidiu se assumir. Tínhamos dezesseis anos na época. Dormi com você moreno, acordei com você loiro. Finalmente com cara de um menino descolado, mas bem confuso.

Lembro do dia em que passamos horas naquela fila esperando por ingressos, e que o melhor daquele dia foi a conversa que veio quando ele terminou. Meus sentimento por você mudaram completamente aquele dia, passaram de um ensaio de flerte adolescente idiota para o único que me conhecia realmente por completo.
Lembro de como jurei pra mim mesmo que estaria sempre ao seu lado, para o que você precisasse.
Lembro de como eu me sentia estranha por passar tanto tempo abraçada com você, mas me fazia sentir pior a ideia de não te abraçar.
Lembro de dizer que seria rápido, e acabávamos demorando uma hora inteira.
Lembro das pessoas me tratando como se eu fosse sua namorada, mas eu não era. Queriam que eu te assumisse. Como assumir o que não existe, eu respondia.
Lembro de como prometia pra mim, que seríamos amigos até você ficar velho, até nos casarmos com outras pessoas. Do problema que seria explicar para meus namorados, que você não lhes oferecia perigo nenhum.
Lembro de como mesmo distantes fisicamente continuava te sentindo parte da minha vida.
Lembro de como nos emocionávamos com as histórias um do outro.
Lembro da primeira vez em que te beijei,  foi uma estupidez.
Lembro de dançar com você. De me deitar sobre suas pernas na quadra. De você deitado no meu colo.De almoços. De nossas mães conversando. De nossos medos divididos em mesas espalhadas por São Paulo. De promessas pós mortem E de tudo.

Mas me lembro também de como você sempre foi omisso. Isso já nos levou a brigas, me fazia ficar revoltada essa tal omissão, mas sempre acabava me justificando culpando sua natureza distraída por isso e com uma certeza no peito - você estaria lá quando eu mais precisasse.
O dia finalmente chegou! E você me deu silêncio.
 Nem um grito, nem um rabisco, nem um Adeus. O silêncio da indiferença, o silêncio das prioridades, o silêncio que não pode ser justificado com distrações.

Nós costumamos julgar as pessoas  pelo que nós somos, e eu realmente acreditei que no momento decisivo você estaria ao meu lado, me apoiando. Como eu tantas vezes estive ao seu, postergando meus problemas por algumas horas pra ir cuidar de você. Entretanto cada um dá o que tem. E você não teve o que era necessário pra me ajudar a levantar. Me deixou caída.
Isso não te faz ruim nem bom, te faz você. Só me mostra que eu por todos esses anos esperei coisas diferentes das que você podia dar e que finalmente não estou disposta a justificar o que eu julgo serem erros seus.
Talvez que só tenho colocado você na categoria errada. Vamos então passar de amigo de vida, para amigo de bar e viver mais feliz assim. Porque eu não estou mais disposta a me sentir como senti esses dias somente porque alguém não se importa. Me recuso a depender tanto assim da sua atenção.

Minha história irreal, acabou.
Hora de reorganizar as prioridades e levantar. Bater a poeira do corpo e entender que isso não faz de mim uma ignorada constante, mas uma ignorada momentânea  Pessoas mudam, eu prefiro achar que você mudou agora, do que pensar que você sempre foi assim.

Não me julgo tão poderosa a ponto de esquecer tudo, provavelmente te amarei muito para o resto da vida. Como tenho amado há anos. Em qualquer tempo, em qualquer vida.




É só que copo quebrou.

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