Por que para morrer...

Puta que pariu. Por quê ?

1hr da manhã o telefone toca, e o meu pai grita. Um grito surdo. Um grito mudo. Ainda assim um grito.
Vamos desde o começo.
Sabe papai sempre foi um homem de muitos amigos. Acho que saí a ele. E assim sendo sei que como eu ele também tem aqueles grandes amigos.
Sabe aqueles? Os insubstituíveis. Os que com vento, sol ou chuva continuam lá. Independente dos pendentes sempre lá.
Os ditos melhores amigos. Eu sinceramente não imagino com que cor ficaria meu céu ou onde iria parar meu chão se um dos meus morresse, pois bem vamos devagar:

-Quem?
O nome dele era Ciro (sempre me confundi um pouco sobre como me referir a um morto, quero dizer era não porra é ! Não gostávamos dele, gostamos ainda! Mas como gostar de algo que não existe mais? Claro que existe esta vivo em nós! Mas morreu logo não vive mais, não existe), 35 anos, 13 anos de casado, uma esposa com 28 anos, um filho de 7, corinthiano fanático sofredr duas vezes porque também era estagiário também, universitário, jogador de futebol nos fins de semana, amante de cerveja aos sábados e um cara bacana todos os dias. Nas horas vagas ou nem tão vagas assim melhor amigo de meu pai.

-Como?
Uma cirurgia no joelho, que se tornou pnumonia, que se tornou enfarto, que se tornou embolia pulmonar, que se tornou pneumonia, que se tornou Morte.

-Quando?
Depois de sair da UTI, de ver o melhor amigo e a esposa. Acabou.

-O que houve?
Papai já estava inquieto para dormir, repetia que lhe faltava algo todo o tempo e acredite em mim ao longo dos meus dezoito anos, não me lembro de te-lo visto rolando na cama com ausência de sono.
Então 1h da manhã o telefone toca e ele lá meio apático meio nervoso, meio bravo meio triste meio de pé meio sentado, mas totalmente triste. Sabe o seu herói? Sabe aquele quem você nunca viu chorando? Sabe aquele que nunca cai? Sabe ele ? Ele estava lá me olhando com aqueles olhos azuis sem saber o que fazer. Começou a telefonar para as pessoas e foi fazer o que ele faz de melhor carregar pessoas.

- Por quê?
Não sei. Ninguém sabe. Acho que essa é a pergunta que ecoa na cabeça das pessoas quando se perde alguém. Acho que a dor nos faz questionar tudo. Quero dizer olha pro cara saudável, boa gente, jovem e todos aqueles blá,blá,blás de gente decente. Morreu. a inquestionável e grandiosa morte. O problema é a dor que vem com ela. Sua amiga inseparável. sua companheira desde sempre.

-E agora?
É difícil saber que o cara que me deu meu apelido mais legal não vai mais me ver esse fim de semana. É difícail saber que o amigo mais legal do meu pai não vai mais vir aqui em casa. E não vai mais pra própria casa ver o próprio filho, jogar o próprio futebol, deitar na própria cama, dormir no próprio sofá. Rir de alegria chorar de saudade.

 Eu cheguei e ele sempre foi um dos atrativos da cidade, estava foi internado da noite pro dia com uma história que virou bola de neve, eu realemente achei que o veria de novo. Quer dizer eu ainda não acredito que não é uma brincadeira de mal gosto. eu ainda não entendi. Eu ainda não quero ver o que esta em meus olhos .Eles me ajudaram a levantar quando eu estava no chão. Queria poder fazer alguma coisa.

A dor agente engole, a vida agente segue, a lembrança agente dói,tudo agente passa. A história agente só vai entender amanhã, mas pode avisar pro cara ai de cima que eu já entendi o que quer dizer que pra morrer basta estar vivo.

 


                                                                      Bebê.